sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Irra! E se não existissem peixeiras!

Ao olhar o céu, o jovem mago sentiu-se confuso e desiludido. Todo o firmamento brilhava. A luz encadeava-o quase tanto como as suas dúvidas. Por várias vezes havia contemplado o precipício em sua frente. Por várias vezes o tentara a ideia da morte.
Encontrava-se sozinho no mundo, sem família, amigos ou amor. Logo ele, que transformaria sem qualquer problema uma cepa morta numa árvore florida, uma pedra num rubi, uma espada numa pena, não sabia o que era ser amado.
Então dirigiu-se ao penhasco, queria falar com Deus. Infelizmente ele não estava em casa. As ondas informaram-no que tinha ido ao outro lado do mundo e pediram-lhe para esperar. Omnipresente, hem? E ele assentiu. Sentou-se e olhou o céu estrelado e por momentos sentiu-se em paz. Ele, um ser superior encontrava-se a lidar com um dilema psicológico. Idêntico ao de um simples carpinteiro ou pastor. Viu-se desolado pela sua mediocridade e pensou por várias vezes abandonar aquele lugar, ou pelo penhasco ou pelo fino trilho que o encaminhara até aquela extremidade do mundo. Durante toda a noite esperou, e questionou-se olhando o infinito azul mas, quando o sol nasceu, foi vencido pelo cansaço e adormeceu...
Acordou já ao por do sol. Deus já lá estava, tratando de assuntos pendentes com sardinhas e moluscos. Abanava os braços e condenava a burocracia. Dizia que já não se faziam anjos como antigamente e que se um gajo quer as coisas bem feitas tem que as fazer. É o fim do mundo!
- Daqui nada mudo-me pra Marte! Lá ao menos...
Parou. Apercebeu-se da presença do pequeno mago. Então, subiu ao penhasco flutuando apenas. Levava vestido um daqueles mantos renascentistas mas desta vez tinha a barba feita.
Sentou-se ao lado do jovem mago e nada disse. Nenhum deles disse nada. E fez-se noite...
Uma fogueira ardia ao lado dos dois, possivelmente foi Deus a acendeu, o rapaz estava atordoado. O Rei dos reis estava na sua frente, sentado, a observa-lo. Ele não merecia tal honra... Nunca! Como fora ousado em vir pedir ajuda ao Grande Mestre. Como ousara perturbar o Criador da terra e dos mares. E do universo! E no entanto lá estava Ele, mesmo sentado à sua frente. Inesperadamente Deus disse
- Sabias que vos criei a todos à minha imagem?
- Não...
- Não? Deixa lá, uns amigos do meu filho ainda hão-de escrever um livro a dizer isso. Bem... É verdade, tal como todas as estrelas do universo foram criadas à imagem do Sol, criei todos os homens à minha imagem. Agora olha para o céu. Consegues ver as constelações?
- Claro – parte de ser mago tem a ver com a astrologia.
- Bem, são famílias de estrelas. São grupos. Não importa quão brilhante é uma estrela, quero-a tanto como a menos brilhante. Tal como te quero como aos teus irmãos...
Então, o mago percebeu que afinal os maiores poderes que poderia ter não tinha. Que tudo o que tinha nunca o faria feliz. Aprendeu que era um simples mortal. Tinha de reaprender a viver.
Mudou de terra. Espalhou os ideais da igualdade e do amor. Considerava-se irmão do mundo. A sua mensagem perdurou tanto tempo que dizem que um dos descendentes dele tomou de assalto a Bastilha, o outro é o Bob Geldof. Logo casou-se. A mulher era uma peixeira de Cabul e acabou por o deixar por um trolha...

P.S. Peço descupa, isto é uma diarreia mental do pior mas é derivada do estudo (fica registado)

2 comentários:

AM disse...

Definitivamente a tua escrita é diferente do habitual! Não te estou a criticar, muito pelo contrário, gosto da tua escrita... porque não descreves um mundo cor de rosa, nem preto... limitas-te a ser um contador de histórias. Histórias essas que transmitem emoções diferentes consoante o leitor. Sei que não te vou dar nenhuma novidade, mas tenho que to dizer: Tens muito jeito! :)até em dias de diarreia de estudo.Bjitos AM

BM disse...

Bem, obrigado. Obrigado pelo elogio. Já agora não quero que te sintas na obrigação de elogiar. Isto é uma experiência nova e quero mudar algo, aprender algo.
Da próxima vez critica-me. "Não gostei de isto ou daquilo, por isto e por aquilo". São as críticas que nos ajudam. Lembra-te, está uma frase pintada na sala de A.P. e que diz o seguinte: "Te quejas de las censuras de tus maestros, émulos y adversarios, cuando debieras agradecerlas. Sus golpes no te hieren; te esculpen."